Como visto em outras páginas do blog, a biomimética apresenta inúmeras facetas e ramos de desenvolvimento tecnológico. Entre eles está a cópia dos designs da natureza e das suas soluções tecnológicas apromiradas através dos anos, na busca pela sobrevivência.
Porém, há ainda um ponto de suma importância a ser tratado: sua contribuição para a ecologia. É na biomimética que está depositada grande parte da esperança de desenvolvimento de sistemas humanos equilibrados com os demais sistemas da Terra. É através da biomimética que podemos aprender a nos perpetuar.
Segue um trecho do artigo acadêmico “A Biomimética como Método Criativo para o Projeto de Produto” que valida essa afirmação:
" Segundo Benyous(bióloga e escritora citada na introdução), ao olhar com profundidade para a natureza,percebemos que todas as invenções humanas já apareceram
nela de uma forma mais elegante e com um custo muito menor para o planeta. Mesmo um dos mais inteligentes sistemas construtivos, de pilares e vigas, já está caracterizado em lírios e hastes de bambu. O aquecimento central e arcondicionado são superados pela torre de cupim. O melhor sonar produzido pelo homem é difícil de ouvir, em comparação com a transmissão do morcego multifreqüencial.
Até mesmo a roda, que sempre pareceu ser uma criação exclusivamente humana, foi encontrada no pequeno motor rotativo que impulsiona o flagelo das bactérias mais antigas
do mundo.
Os seres vivos, em conjunto, mantêm uma estabilidade dinâmica, como dançarinos em um arabesco, continuamente manipulando recursos sem desperdícios. Depois de décadas
de estudos, os ecologistas começaram a entender semelhanças escondidas entre muitos sistemas interligados.
De suas anotações saem alguns princípios:
- A natureza trabalha à luz do sol;
- A natureza usa apenas a energia que necessita;
- A natureza adapta a forma à função;
- A natureza recicla tudo;
- A natureza vive em cooperação;
- A natureza se assenta na diversidade;
- A natureza exige conhecimentos precisos;
- A natureza corta o desperdício desde a origem.
- A natureza toca o poder de limites.
Segundo o biólogo John Todd (2000), apud [17], a ecologia da Terra possui um conjunto de instruções que precisamos urgentemente decodificar e empregar na concepção dos sistemas humanos.
Após quarenta anos de pesquisas nas áreas de biologia, ecologia e design, Todd enfatiza que é possível projetar com a natureza. Através do design ecológico é possível existir uma civilização mais evoluída, usando apenas um décimo dos recursos do planeta que a sociedade industrial utiliza hoje.
John e sua esposa Nancy Jack-Todd (1993), apud [17], foram os primeiros pesquisadores a oferecer uma lista de princípios de design ecológico."
fonte:
http://www.pgdesign.ufrgs.br/designetecnologia/index.php/det/article/viewFile/52/33
E hoje a biomimética e sua importância para a ecologia já vem sendo abordada em muitos meios como, por exemplo, no caso do ciclo de debates "Encontros de sustentabilidade" promovido pelo banco real.
Nesta ocasião a Palestrante Susan Andrews ( psicóloga,antropóloga e monja norte-americana) discursa a respeito de tópicos semelhantes aos abordados acima, chegando a citar Benyous.
Trecho do artigo sobre a palestra:
" Susan cita a autora Janine Benyus, que faz uma análise dos estágios da natureza, os
compara aos da humanidade e aponta caminhos para a sobrevivência do planeta. O primeiro
estágio (Tipo I) é o da colonização, em que se tira vantagem da abundância de recursos do
local. Quando eles acabam, passa-se para outro lugar. É o que acontece, por exemplo,
quando se colocam besouros dentro de uma lata de farinha: enquanto houver farinha, eles se
alimentam, se acasalam e a população se multiplica; se acabar a farinha, procuram outra lata.
No entanto, quando se coloca uma tampa na lata, a farinha escasseia, e a população
colapsa. Isso está acontecendo com a humanidade. A partir da Revolução Industrial, nosso
sistema econômico passou a utilizar fortemente os recursos, então abundantes. Havia uma
fantasia de que a natureza era ilimitada. Mas os ecossistemas começaram a se deteriorar, e as
conseqüências tornam-se globais. O problema é que temos apenas um planeta, e não
podemos nos mudar para outro.
Esse cenário nos força a sair do primeiro e entrar no segundo estágio da natureza (Tipo
II), considerado transitório, no qual muitas espécies ocupam o mesmo habitat, e a energia é
utilizada para fortalecer as raízes. Esse é um estágio preparatório para o terceiro (Tipo III),
em que se atinge o equilíbrio – para o qual Susan acredita que precisaremos rumar, se
quisermos sobreviver enquanto espécie.
Neste 3º estágio as crias são maiores e têm uma vida
mais longa, há sinergia com as espécies ao seu redor e, ao considerarmos o sistema todo, a
única energia consumida vem do Sol. Prevalece uma auto-organização, e os recursos
disponíveis são utilizados de forma eficiente no longo prazo.
Os exemplos mais contundentes do Tipo III, segundo os proponentes da biomimética,
são a floresta tropical e o recife de corais. Existem vários mandamentos que garantem a
perpetuação do estágio Tipo III, dos quais Susan citou cinco:
1. Usar resíduos como recursos. O tratamento biológico do esgoto constitui um bom
exemplo: trata-se da criação, nas raízes de certas plantas, de bactérias que consome a
matéria orgânica e formam um filtro biológico que torna a água própria para o uso.
2. Diversificar e cooperar de modo a utilizar o habitat de maneira eficiente. Essa premissa
já é aplicada em ecossistemas industriais como o de Kalundborg, na Dinamarca, onde
fica a maior fábrica da Novo Nordisk. As várias indústrias locais e a comunidade adotam
uma política de colaboração e utilizam os resíduos industriais dos outros participantes
para a nova produção. Outro modelo em que a cooperação prevalece é o caso das
ecovilas, como o Parque Ecológico Visão Futuro (www.visaofuturo.org.br), fundada por
Susan na época da II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio-92), em Porangaba (interior de São Paulo). A meta das ecovilas é
suprir as necessidades básicas por meio de sistemas cooperativos, auto-organizadores e
auto-suficientes, gerando mínima entropia e buscando a máxima utilização de todos os
recursos humanos e naturais. A ecovila de Porangaba é uma das prioneiras no Brasil, mas
também há modelos bem-sucedidos na Europa e nos Estados Unidos.
3. Armazenar e utilizar energia de maneira eficiente. Há uma previsão de que a indústria de
energia solar crescerá de 20% a 30% ao ano nos próximos anos. Encontra-se em teste, na
Austrália, uma torre solar que terá capacidade de gerar eletricidade para até um milhão
de pessoas, evitando a geração de 700 mil toneladas de CO2 por ano.
4. Otimizar, em vez de maximizar. Fazer mais com menos e usar modelos existentes na natureza. Alguns dos exemplos são a criação de cristalitos em polímeros orgânicos, como na concha de abalone, para a fabricação de cerâmica, e a reprodução da teia de aranha para construção de coletes à prova de bala e cabos de suspensão.
5. Fortalecer os canais de comunicação. Essa medida permite identificar e solucionar problemas antes dos impactos prejudiciais ocorrerem. Com a comunicação fluindo, é possível traçar estratégias vencedoras para combater situações que possam prejudicar a
comunidade.
O momento, agora, é de transição, e a mudança tem de começar no indivíduo. Adaptando esses mandamentos para as pessoas, sobressaem três pontos:
1. Cooperar. A cada dia, a capacidade de se relacionar com harmonia é mais determinante
no sucesso pessoal e profissional.
2. Armazenar e utilizar energia eficientemente. Uma maneira simples de reduzir o estresse
e poupar energia interna é respirar corretamente, meditar. Pequenas pausas durante o dia
para uma simples meditação aumentam a concentração, a memória e a eficiência.
3. Fortalecer canais de comunicação. Segundo uma pesquisa da Universidade de Harvard, o elemento mais prejudicial à saúde não é o fumo, a dieta inapropriada ou a bebida alcoólica, mas a solidão. Amar e ser amado estimula a glândula timo, melhorando o desempenho do sistema imunológico, proporcionando saúde integral.
A mensagem é clara: podemos nos inspirar no ecossistema ideal, reproduzi-lo em nós
mesmos. A humanidade não pode mais extrair da natureza como vem fazendo – tem de
aprender com ela. Para tanto, o mundo foca o olhar no Brasil. Não só pelos recursos naturais abundantes, mas principalmente pelo coração das pessoas. O que torna a tarefa desse país ainda mais importante e crucial para o planeta."
fonte: http://sustentabilidade.bancoreal.com.br/cursos/Documents/artigo_susan_andrews.pdf